No céu cinzento, sob o astro mudo
Batem as hélices na tarde esquentada,
Vêm em bandos, com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada.
Se alguém se engana com o seu sorrir
E lhes franqueia as portas, à chegada:
Só mandam vir, só mandam vir,
Só mandam vir e não fazem nada.
A toda a parte chegam helicópteros,
Poisam nos tandos, poisam nas picadas...
Trazem no ventre “os cabeças d’ouro”
Que de guerrilhas não percebem nada.
São os reizinhos do Niassa todo.
Senhores por escolha, mandadores sem punho,
Aceitam cunhas e dizem que não,
Passam a ronda sobre os céus do Lunho.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Quantos “mercedes”, senhor capitão,
Até agora foram fornicadas?!
Eu bem lhe disse que pusesse os homens
Detectando minas, fazendo emboscadas.
Lendo os papéis, lá na sua ZAC,
Gritam p’ra nós, mui enfurecidos:
- Foi de propósito, foi de propósito,
Foi de propósito que ela foi estoirada.
No chão do medo tombam os vencidos,
Ouvem-se os tiros na noite abafada,
Jazem nos fossos vítimas d’um credo
E não se esgota o sangue da manada.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Comem cabrito, comem cabrito,
Comem cabrito e n´s feijoada.
Fazendo a estrada sobre um chão de greda
Fazem-se aterros, pontes e pontões,
Ouvem-se os tiros lá na emboscada
Aqui no Lunho é que há leões!!!
Ouve-se um estrondo, todo o chão tremendo,
Saltam as chispas com grande estupor,
Soam as tubas: - O que terá sido?
- Mudou o chefe deste sector.
Acaba a guerra, eu cá sou bom
Sou candeeiro e também fogão!
- Só quero feridos à segunda-feira!...
- Não quero mais evacuações!...
- O inimigo deve conhecer-se,
Vamos chamá-lo para as inspecções.
Agora queriam arrasar o LUNHO,
Deixar a estrada e largar a pista!
...Ele é que é bom, já ninguém duvida,
Deixa contente qualquer terrorista.
Encher o peito de metal brilhante,
É essa a sua aspiração.
Por isso deixa os turras sózinhos
Dentro a linha de contenção.
- Deixem crescê-los,organizar-se,
Depois eu vou deitar-lhes a mão!
Tremem as paredes de qualquer quartel,
Falam militares, anda tudo à bulha!...
Ri-se o capitão, ri-se o coronel,
Com esta merda da mini-patrulha!
Estranha maneira de tratar o cancro,
Que se propaga por nossa nação!...
Ele será leigo ou talvez ceifeiro.
Mas nunca médico cirurgião.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Senhor comandante de batalhão,
Invente mais uma operação
E distribua mais uma ração,
Mais quatro noites a dormir no chão...
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Por uma ponte sem terminação,
O nosso sangue foi sacrificado,
Mas aleluia!, não será lembrada,
Pelos cabeças de ar condicionado.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Batem as hélices na tarde esquentada,
Vêm em bandos, com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada.
Se alguém se engana com o seu sorrir
E lhes franqueia as portas, à chegada:
Só mandam vir, só mandam vir,
Só mandam vir e não fazem nada.
A toda a parte chegam helicópteros,
Poisam nos tandos, poisam nas picadas...
Trazem no ventre “os cabeças d’ouro”
Que de guerrilhas não percebem nada.
São os reizinhos do Niassa todo.
Senhores por escolha, mandadores sem punho,
Aceitam cunhas e dizem que não,
Passam a ronda sobre os céus do Lunho.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Quantos “mercedes”, senhor capitão,
Até agora foram fornicadas?!
Eu bem lhe disse que pusesse os homens
Detectando minas, fazendo emboscadas.
Lendo os papéis, lá na sua ZAC,
Gritam p’ra nós, mui enfurecidos:
- Foi de propósito, foi de propósito,
Foi de propósito que ela foi estoirada.
No chão do medo tombam os vencidos,
Ouvem-se os tiros na noite abafada,
Jazem nos fossos vítimas d’um credo
E não se esgota o sangue da manada.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Comem cabrito, comem cabrito,
Comem cabrito e n´s feijoada.
Fazendo a estrada sobre um chão de greda
Fazem-se aterros, pontes e pontões,
Ouvem-se os tiros lá na emboscada
Aqui no Lunho é que há leões!!!
Ouve-se um estrondo, todo o chão tremendo,
Saltam as chispas com grande estupor,
Soam as tubas: - O que terá sido?
- Mudou o chefe deste sector.
Acaba a guerra, eu cá sou bom
Sou candeeiro e também fogão!
- Só quero feridos à segunda-feira!...
- Não quero mais evacuações!...
- O inimigo deve conhecer-se,
Vamos chamá-lo para as inspecções.
Agora queriam arrasar o LUNHO,
Deixar a estrada e largar a pista!
...Ele é que é bom, já ninguém duvida,
Deixa contente qualquer terrorista.
Encher o peito de metal brilhante,
É essa a sua aspiração.
Por isso deixa os turras sózinhos
Dentro a linha de contenção.
- Deixem crescê-los,organizar-se,
Depois eu vou deitar-lhes a mão!
Tremem as paredes de qualquer quartel,
Falam militares, anda tudo à bulha!...
Ri-se o capitão, ri-se o coronel,
Com esta merda da mini-patrulha!
Estranha maneira de tratar o cancro,
Que se propaga por nossa nação!...
Ele será leigo ou talvez ceifeiro.
Mas nunca médico cirurgião.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Senhor comandante de batalhão,
Invente mais uma operação
E distribua mais uma ração,
Mais quatro noites a dormir no chão...
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
Por uma ponte sem terminação,
O nosso sangue foi sacrificado,
Mas aleluia!, não será lembrada,
Pelos cabeças de ar condicionado.
‘Stou farto deles, ‘stou farto deles,
Só mandam vir e não fazem nada.
envoyé par Riccardo Venturi - 9/3/2007 - 12:07
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Sono tramandati anche gli autori: il soldato semplice Herculano do Carvalho ed altri suoi commilitoni.
pt.wikipedia
Il "Cancioneiro do Niassa" è una raccolta di fados e canzoni incentrare sulla vita dei militari portoghesi di stanza nella regione del Niassa, in Mozambico, durante la guerra coloniale alla fine degli anni '60. In maggior parte si tratta di adattamenti dei testi di canzoni in voga all'epoca, che ritraggono una visione umoristica e sarcastica della stessa guerra. I testi furono elaborati principalmente dagli stessi militari, e furono effettuate alcune registrazioni private che circolarono rapidamente in modo clandestino tra i militari delle altre zone di guerra.
Lunho, um sítio "perdido" no norte de Moçambique, na província de Niassa. Onde, em Novembro de 1972, se encontrava aquartelada a Companhia de Caçadores 3392. A região envolvente, segundo os primeiros militares que por ali passaram deram-lhe o nome de "Estado de MINAS GERAIS".
Lunho era un luogo sperduto nel nord del Mozambico, nella provincia del Niassa. Qui, nel novembre 1972, si trovava acquartierata la Compagnia di Cacciatori 3392 dell'Esercito Portoghese. Alla regione circostante, un immenso terreno minato, i primi militari che vi passarono diedero con amara ironia il nome di "Estado de Minas Gerais", giocando sul doppio senso tra il nome dello stato brasiliano ("Miniere Generali") e "minas gerais" = mine dappertutto. Non è certo un caso che, per l' "Inno di Lunho", i soldati di stanza si siano serviti di una delle canzoni più proibite dal regime salazarista, "Os Vampiros" di José Afonso; sono gli stessi soldati che, una mattina di aprile di pochi anni dopo, abbatteranno la dittatura fascista portoghese. [RV]