La guerra di Piero
Fabrizio De AndréPORTOGHESE / PORTUGUESE [2] - Pino Ulivi | |
A GUERRA DE PEDRO Nova versão portuguesa de Riccardo Venturi (2004) | A GUERRA DE PIERO |
Dorme num campo de trigo enterrado e não há rosas que, ao seu lado, sobr’ ele velem em regos sombreados, mas mil e mil papoilas encarnadas. | Dormes sepultado num campo de trigo, não é a rosa, não é a tulipa que te velam dá sombra dos fossos, mas são mil papoulas vermelhas. |
“À beira deste impetuoso torrente desejo ver que leve a corrente com a sua força lúcios prateados e não cadáveres de soldados.” | Ao longo das margens do meu torrente quero que desçam os peixes prateados, não mais os cadáveres dos soldados levados nos braços dá corrente. |
Assim dizia, e era no inverno E como os outros, rumo ao inferno Anda triste como o que deve, O vento cospe-lhe na cara a neve. | Assim tu dizias e era de inverno e como os outros em direção do inferno tu caminhas triste como quem deve. O vento te cospe na cara a neve. |
Pára, Pedro, pára um momento Deixa que um pouco te acaricie o vento, Trazes a voz dos caídos na guerra Pagos com cruzes e dois metros de terra. | Pare Piero, pare agora, deixas que o vento te passe um pouco no corpo, dos mortos em batalha te leve a voz. Quem deu a vida teve em troca uma cruz. |
Mas não a ouviu, e o tempo passava Com as estações ao passo de java E um dia chegou a passar a fronteira A primavera iluminando o ar. | Mas tu não o ouvistes e o tempo passava com as estações a passo de dança e chegastes a passar a fronteira num belo dia de primavera. |
Enquanto o Pedro seguia marchando Apercebeu outro homem passando Na vale, e tinha o seu mesmo humor Mas a uniforme era de outra cor. | E enquanto marchavas com a alma nos ombros viste um homem no fundo do vale que havia teu mesmo idêntico humor ma a farda de uma outra cor. |
Tira-lhe, Pedro, tira-lhe cedo, Tira outra vez e não tenhas medo Até o deixar morto e exangue Cair no chão e cobrir o seu sangue. | Disparas-lhe Piero, dispara-lhe agora e depois de um tiro dispara-lhe ainda até que tu não o verás exangue cair no chão a cobrir seu sangue. |
"E se lhe tirar no peito ou na frente P’ra morrer terá tempo suficiente; e a mim, vai-me ficar tempo p’ra ver, Os olhos dum homem que está a morrer." | E se lhe dou um tiro na testa ou no coração terá somente o tempo para morrer, mas para mim ficará o tempo de ver, ver os olhos de um homem que morre. |
Esta atenção muito caro lhe custa, O outro se vira, o vê e se assusta. Pega nas armas, aponta e dispara, A gratidão é coisa muito rara. | E enquanto tu lhe reservas esta atenção aquele se vira , te vê e fica com medo, e apoiada no ombro a artilharia não retribui a cortesia. |
Sem uma queixa, no chão caiu E num momento ele percebeu Que o tempo não lhe teria chegado P’ra pedir perdão por qualquer pecado. | Caístes no chão sem um lamento e reparastes num só momento que o tempo não seria bastante para pedir perdão por cada pecado. |
Sem uma queixa, no chão caiu E num momento ele percebeu Que a sua vida a acabar-se ia E que ele nunca regressaria. | Caístes no chão sem um lamento e reparastes num só momento que a tua vida acabava aquele dia e não teria uma volta. |
"Ó, meu amor, minh’última viagem a faço em Maio, devo ter coragem. Ó meu amor, direito ao inferno Eu preferia ir no gelo do inverno." | Ninetta minha, morrer de maio é preciso ter tanto, demais coragem. Ninetta bela, direto para o inferno teria preferido ir de inverno. |
Só o trigo ouvia tudo o que dizia O seu fusil empunhando morria. Na boca palavras geladas havia Que nunca o sol derreteria. | E enquanto o trigo te estava ouvindo, entre as mãos apertavas o fuzil, dentro da boca apertavas palavras demais geladas para derreter ao sol. |
Dorme num campo de trigo enterrado e não há rosas que, ao seu lado, sobr’ ele velem em regos sombreados, mas mil e mil papoilas encarnadas. | Dormes sepultado num campo de trigo, não é a rosa, não é a tulipa que te velam dá sombra dos fossos, mas são mil papoulas vermelhas. |