Le déserteur
Boris VianPORTOGHESE BRASILIANO / BRAZILIAN PORTUGUESE / PORTUGAIS BRÉSILIEN ... | |
O DESERTOR Senhor Presidente, escrivo-lhe esta carta, talvez o Senhor leja se o tempo tiver. Hoje eu recebi meus papéis militares, eu devo ir p'rà guerra na tarde de amanhã. O meu Presidente, eu não quero fazê-la, não estou aqui na terra a gente p'ra matar, Não é p'ra o zangar mais eu tenho que dizer que a minha decisão é a de desertar. Desde que eu nasci eu vi morrer meu pai, e partir meus irmãos e meus filhos chorar, minha mãe tão sofreu, agora está enterrada não lhe importa das bombas, dos vermes nem sequer. Quando estava em prisão roubaram-me a esposa, roubaram-me a alma e tudo o que passei. Assim, ao amanhecer eu vou fechar a porta na cara de anos mortos e vou-me encaminhar. Meu pão mendigarei atravessando Espanha e França, e Bretanha e à gente eu direi: Não obedeçam mais e recusem fazê-la, não vão para a guerra, e recusem partir. Se o sangue houver que dar, Senhor, vá dar o seu, não seja descarado tão muito, meu Senhor. E se me perseguir avise os seus gendarmes que eu ando sem armas e que podem tirar. | O DESERTOR Senhor Presidente, Se houver tempo sobrando A carta que lhe mando Leia atentamente. Veio a convocação Ditando que eu parta Até a noite de quarta Juntar-me a um pelotão. Senhor Presidente, Não quero essa missão Não é minha vocação Sair a matar gente. Se digo isso ao senhor Não é para irritá-lo Mas decidi e falo: Serei um desertor. Perdi os meus tesouros Vi meu pai num caixão Vi partir meus irmãos Dos meus filhos o choro. Mamãe sofreu a guerra Jaz morta e hoje zomba Na tumba ri das bombas E dos vermes sob a terra. Estive encarcerado Minha mulher levaram Minha alma me tiraram Roubaram meu passado. Raiando a alvorada Tranco minha casa e parto Da morte já estou farto Irei viver na estrada. Meu pão irei pedir Nos vales e nas ilhas Cruzar todas as trilhas Dizendo a quem me ouvir: Não devem acatar As ordens de ir à guerra Não deixem sua terra O certo é recusar. Se o sangue dos valentes É o preço da vitória Dê o seu e alcance a glória, Senhor Presidente. Se mandar me buscar Alerte seus soldados De que não vou armado E podem atirar. |